A JORNADA DE SUPERAÇÃO E REDENÇÃO DE LADI KUHN: DO PARAGUAI AOS ESTADOS UNIDOS, DA DOR À ESPERANÇA
Por Ladi Kuhn
INTRODUÇÃO
A história de Márcia Bernades é uma narrativa que atravessa os limites do sofrimento e da resiliência humana. Desde a infância marcada por abusos, negligência e traumas profundos, até a juventude, onde enfrentou a dura realidade da prisão e das fugas, Márcia construiu uma trajetória de vida que poucos poderiam imaginar. O que parecia ser um destino de dor e opressão se transformou em uma jornada de superação impressionante. Com uma força interior incomum e uma determinação inabalável, ela reescreveu sua própria história. Sua trajetória é um testemunho de fé, autoconhecimento e da inestimável força que reside dentro de cada ser humano para transformar suas adversidades em ferramentas de crescimento. Neste artigo, conheça a vida de Márcia Bernades e como ela se tornou um farol de esperança e motivação para tantas outras mulheres que, assim como ela, buscam a superação.
SOBRE MARCIA BERNADES
Sou Marcia Bernardes, CEO do PoddaBernardes, palestrante e autora de "Da Prisão ao Sucesso". Minha história é um testemunho vivo de resiliência e transformação, onde cada obstáculo se tornou um degrau para a superação.
Minhas Adversidades:
Minha jornada começou difícil, com uma infância marcada por abusos e negligência. Essa base instável me levou a caminhos sombrios, e aos 17 anos, me envolvi com o crime. Aos 18, dentro do presídio, sofri um estupro, um trauma que se somou às minhas feridas emocionais.
Naquele ambiente hostil, conheci o pai do meu filho, com quem vivi um relacionamento abusivo. A dependência emocional e a manipulação me levaram a cometer crimes para sustentar seu estilo de vida na prisão. Aos 19 anos, grávida, fui presa e dei à luz no presídio, um momento de profunda culpa e dor.
Minha trajetória no sistema prisional foi marcada por fugas e recapturas. Entrei em 2006, grávida de sete meses, e saí em liberdade em 2009. Em 2010, cometi novos crimes, fugindo da cadeia. Em 2013, fugi novamente, permanecendo foragida até minha recaptura em 2016, quando liderava o tráfico internacional de drogas. Enfrentei a violência, a solidão e a luta constante pela sobrevivência, saindo da prisão em 2018, após quase 10 anos de cárcere.
O Impacto na Minha Vida:
As adversidades moldaram minha vida de maneira profunda. O abuso e a negligência na infância deixaram marcas emocionais duradouras, afetando minha autoestima e meus relacionamentos. O estupro no presídio me fez sentir vulnerável e desamparada, enquanto o relacionamento abusivo me fez questionar minha capacidade de discernimento, deixando feridas emocionais profundas e um ambiente familiar hostil.
A prisão me separou do meu filho e me expôs à violência e à desumanidade. A culpa e a dor da separação me acompanharam por muito tempo, e a luta pela sobrevivência me fez desenvolver mecanismos de defesa que, por vezes, me impediram de construir relacionamentos saudáveis.
O envolvimento com o tráfico internacional de drogas me colocou em risco constante e me fez perder a noção das consequências dos meus atos. A prisão e a necessidade de cumprir pena integralmente me obrigaram a confrontar meus erros e a buscar um novo caminho.
Minha Superação:
Minha superação foi um processo gradual e multifacetado. O primeiro passo foi reconhecer meus erros e decidir mudar o rumo da minha vida. A busca por conhecimento e educação foi fundamental. Ao sair da prisão, decidi estudar Direito, uma área que me permitiu vislumbrar um futuro promissor.
A criação do PoddaBernardes foi um marco na minha jornada. Ao compartilhar minha história e as histórias de outras mulheres que superaram o sistema prisional, encontrei um propósito e uma forma de dar sentido à minha dor. O projeto me proporcionou um espaço para conectar-me com outras pessoas que passaram por situações semelhantes, encontrando apoio mútuo e mostrando que a transformação é possível.
A fé e a espiritualidade desempenharam um papel importante na minha recuperação. Ao me tornar Kardecista, encontrei força para superar os momentos mais difíceis. O apoio de pessoas que acreditaram em mim, mesmo quando eu mesma não acreditava, foi fundamental.
A Ressignificação da Dor:
A ressignificação da minha dor foi um processo complexo e doloroso, mas também libertador. Em vez de me deixar paralisar pelo passado, escolhi usar minhas experiências para construir um futuro diferente. A criação do PoddaBernardes foi uma forma de transformar minha dor em ferramenta de transformação social.
Ao compartilhar minha história, pude me conectar com outras pessoas que passaram por situações semelhantes, encontrando um senso de comunidade e pertencimento. A troca de experiências me permitiu ver que não estava sozinha em minha luta e que era possível superar as adversidades.
A educação e o conhecimento me proporcionaram ferramentas para compreender meus traumas e processar minhas emoções. Ao estudar Direito e me especializar em alienação parental, pude entender melhor as dinâmicas de poder e abuso que marcaram minha vida.
Além disso, a maternidade me trouxe uma nova perspectiva. Engravidar novamente e gerar em meu ventre uma bebê, que foi diagnosticada com autismo, me ajudou a ressignificar meu passado. Ser mãe atípica me ensinou a ter paciência, a amar incondicionalmente e a valorizar cada conquista, por menor que fosse. A maternidade me deu forças para seguir em frente e me tornar uma pessoa melhor.
A ressignificação da minha dor também envolveu um processo de autoconhecimento e autoaceitação. Ao confrontar meus erros e falhas, pude me perdoar e seguir em frente. Acredito que a superação não significa negar o passado, mas sim aprender com ele e usá-lo como um trampolim para o futuro. Eu sou a prova viva de que a transformação é possível, e minha história inspira milhares de pessoas a acreditarem em seu próprio potencial de superação.

