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A JORNADA DE SUPERAÇÃO E REDENÇÃO DE LADI KUHN: DO PARAGUAI AOS ESTADOS UNIDOS, DA DOR À ESPERANÇA

Por Ladi Kuhn
Luto, abandono, câncer, infarto e uma linda história de superação

 Sobre Ana Cristina 

Ana Cristina Barros, uma mulher de 52 anos, esposa do Armando, mãe da Izadora

e do João Francisco. Mora em Brasília. Atualmente é Executiva de Negócios

Digitais em uma Empresa de Tecnologia.

 

Jornada de Superação

Quando eu tinha três anos de idade, meu pai Izidoro faleceu de infarto aos 47

anos. No final do velório, que no interior há anos atrás, acontecia na própria casa,

minha mãe biológica foi

embora sem levar a
mim e meu irmão. Meu irmão foi criado pelo meu tio, irmão do meu pai falecido

e eu fiquei morando entre minhas irmãs, filhas do primeiro casamento do meu pai, até completar seis anos e ter que ficar apenas com uma delas, para poder entrar na escola. Foi quando fui adotada pela Maria, minha irmã que
virou minha "mãe", e minha irmã Fátima se tornou minha "tia".
Por mais que me sentisse amada, protegida e até mesmo com sorte por não ter ido para um orfanato, o
sentimento de abandono, e muitas vezes de não pertencimento, me perseguiram por décadas da minha
vida.

Sempre tive curiosidade de ver como era minha mãe biológica. Para saber se eu me parecia com ela, se
o sentimento que sentiria ao vê-la seria diferente, talvez para perguntar porque ela foi embora, se ela
sentia minha falta, e outras dúvidas que sempre me assombraram.

Aos 34 anos tive a oportunidade de conhecê-la, e nada, nada foi como eu havia idealizado durante 30
anos. Ela tinha uma aparência de mulher sofrida, aparentava mais idade do que tinha e na verdade não
me vi nela. Ao saber quem eu era, ela chorou muito, praticamente desmaiou, me pediu perdão. Claro
que fui receptiva, abracei, perdoei (afinal quem sou eu para não perdoar alguém), mas eu não quis fazer
perguntas, talvez por medo das respostas, e também porque não achei que cabia mais nada disso
naquela história. Ela não era minha mãe. Ela tentou manter contato, mas não consegui levar aquela
relação a diante, talvez para não magoar minha mãe Maria, que realmente foi quem esteve ao meu
lado, jamais gostaria de demonstrar ingratidão, e também por ela ser uma mulher desconhecida para
mim, não existia amor.
Nesse mesmo ano, 5 meses depois, descobri um câncer  de mama bastante agressivo. Era como se o meu
corpo expulsasse nesse câncer, todo o ressentimento, mágoa e tristeza que senti durante todos esses
anos. Foram 2 anos de muita luta, muitas cirurgias, muitas mudanças, cicatrizes que ainda me lembram
todos os dias por tudo que passei. Nesse período tive que parar de trabalhar, mas eu precisava me
sentir útil e viva de alguma forma, e assim fui fazer trabalhos voluntários, tanto com crianças com
câncer, como crianças e adolescentes com síndrome de down e autismo. Com certeza aprendi muito
mais com eles do que ajudei. Foram momentos de entendimento e entrega que me ajudaram a passar
por tudo aquilo.

Depois desse período, chegava o dia de voltar a trabalhar e isso dava uma sensação de que a vida
começaria a voltar ao normal. No sábado, fomos eu e meu marido ao cinema para comemorar o meu
retorno ao trabalho na segunda. Nesse cinema não havia sinal de celular e quando saímos, mais de 30
ligações de casa, da casa da minha sogra e da minha mãe. Minha filha com 14 anos de idade, havia
escorregado em casa e teve um traumatismo craniano, onde ficou na UTI, com risco de ter que se
submeter a uma cirurgia cerebral, depois teve paralisia facial, foram muitos meses de cuidados e medos.
Graças a Deus tudo ficou bem.

Os anos passavam e como todas as famílias, tínhamos nossos altos e baixos. Dias de muita alegria,
conquistas, e dias de tristeza, perdas de pessoas muito amadas, como minha sogra, que sempre foi um
porto seguro para gente.

Depois de vários anos, tínhamos passado um final de semana maravilhoso em Pirenópolis, eu, meu
marido, com primos e amigos. Ao retornarmos para Brasília no domingo, já me sentia muito sonolenta e
cansada. Na segunda fui trabalhar normalmente, mas sentia muita dor no peito. Brinquei a manhã toda
que estava infartando e que a tarde iria para casa. Durante uma reunião no horário do almoço, comecei
a vomitar muito, a dor aumentou e meu lado esquerdo paralisou. Eu realmente estava infartando, aos
47 anos, na mesma idade que meu pai havia falecido. Dessa vez eu tinha certeza que não sairia viva.
Sobrevivi, mesmo com o médico dizendo que não sabia como eu estava viva.

Nessa época não conseguia entender porque tantas provações, nem mesmo porque eu sempre me
recuperava, com cicatrizes, histórias, medos, mas ainda assim viva. A recuperação foi até rápida, em 30
dias já estava trabalhando novamente. Fui internada mais 3 vezes na UTI, sempre que tinha alguma dor
no coração, até percebermos que eu havia desenvolvido um transtorno de ansiedade, por isso as
"dores" no peito.

Sempre brincávamos que já estava bom, que se eu tinha dito para Deus que eu queria pagar todos os
meus pecados nessa vida, era brincadeira, ele poderia dividir em outras.Com 5 meses após esse susto, começava a nossa saga com nosso filho. Em agosto de 2018 ele foiinternado pela primeira vez e até março de 2019 foram mais de 14 internações, com dores surreais que nem morfina resolvia. Foram meses de exames, médicos até o diagnóstico de Síndrome de Crohn, uma doença autoimune, sem cura. Com a demora no diagnóstico, João teve o intestino perfurado, uma pêndice supurado e 5 horas de cirurgia, onde ele realmente renasceu e saiu com uma bolsa de
. João rejeitou a bolsa e somente eu conseguia cuidar dele durante os 4 meses que se
seguiram. Durante a cirurgia do meu filho, passei as 5 horas andando no hospital, fazendo a oração do
hoponopono e rezando.

Ressignificando os traumas

Para suportar tamanha dor e ansiedade, comecei a frequentar a Sociedade Vipassana de Meditação. A meditação realmente ressignificou muita coisa em minha vida, me trouxe para o presente, vivendo um dia de cada vez.

Em menos de um ano veio a pandemia, e aqui em casa éramos o pior tipo de grupo de risco. Ficamos
completamente isolados, e o medo nos assombrando o tempo todo. Foi nesse período que decidi fazer
um curso EAD de Terapias Holísticas, 750 horas de aromaterapia, cristaloterapia, cromoterapia, florais,
reiki, fitoterapia, fitoenergética, auriculoterapia, radiestesia, entre outros. Comecei a fabricar meus
próprios produtos naturais, a cuidar de mim e dos meus amores com óleos essenciais, reiki, florais.
Muitos amigos começaram a pedir e eu acabei criando a minha marca, a CuraTina (um de meus apelidos
Tina). Durante toda a pandemia fiz shampoos, sabonetes, condicionadores, repelentes, cremes, séruns,
velas, desodorante, home spray, tudo natural. Fiz atendimentos para amigas com crise de ansiedade,
climatério, depressão.
Passado a pandemia, voltei a trabalhar presencial, e já não sobra tanto tempo para meu "negócio", mas
ele existe e com certeza será minha aposentadoria. Sei que posso ajudar muitas pessoas com tudo que
aprendi, sei que todos nós podemos transformar vidas, mas devemos começar pela nossa. Esse ano
comprei um terreno na Chapada dos Veadeiros, onde vou construir o meu refúgio e o de muitas pessoas
que venham a precisar de um lugar de acolhimento.

Mensagem 

Ter passado por tudo isso, com uma certa leveza, rindo da minha própria "sorte", das histórias que
aconteciam, e ter o apoio da minha família foi essencial. Querer sempre sobreviver também foi de suma
importância.

Aprendi que não posso controlar minha vida, aprendi que existem coisas que não vão mudar e que
temos que aprender a conviver com elas. Aprendi que mesmo nos momentos de dor, ainda existem
momentos incríveis. Aprendi que mesmo quando tudo parece perdido, ainda assim tudo pode mudar e
melhorar. Aprendi, que independente de qualquer coisa, o nosso bem mais precioso é a VIDA. E se eu
conseguir tocar uma única pessoa com a minha história, já vai ter valido a pena.
Gostaria de dizer que não é vergonha, e nem que somos menos por termos medo, por chorarmos, por
muitas vezes precisarmos de colo. É importante aprendermos a pedir ajuda, e lembrarmos que até para
cuidar do outro, precisamos primeiro cuidar da gente.

 

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